Uma mão cheia de dias e (re)encontros

Neste fim-de-semana teve lugar o X Hipócrates - festival de tunas mistas organizado pela Tuna Médica de Lisboa. Como tal, eu não poderia ter estado noutro lado senão lá. Portanto na 5ª feira peguei nos meus 16,5 kg de bagagem (em grande parte roupa jamais usada nestas 7 semanas) e dei início ao roteiro LIS-PRG-LIS.

Não é simples chegar ao terminal 2 de Ruzyně a partir de Hostivař, mas desta vez foi inclusivamente doloroso. Comecei por achar muito divertido observar os senhores polícias e os aparatosos snipers todos alinhadinhos nos acessos ao aeroporto, mas quando caí espalhafatosamente com a minha volumosa Samsonite por cima das 3 malas do gigolo italiano que viajava ao meu lado no autocarro passei a mostrar os dentes num esgar de dor e de vergonha. A nossa marcha tinha sido abruptamente interrompida por uma barreira policial. E, após 20 minutos de desesperada espera, passaram então as dezenas de veículos das comitivas do Sr Obama e do Sr Medvedev, saudámos o Air Force One ao longe na pista e eventualmente cada um foi à sua vidinha.

Chegar a Portugal foi semelhante a entrar numa sitcom. O sol era radioso e as cores garridas, tinha a sensação de que os anúncios falavam comigo (porque conseguia compreender todas as palavras) e as conversas que ouvia à minha volta pareciam extraídas de uma palco de revista. O nosso dramatismo intrínseco contrasta tanto com a seriedade própria dos eslavos... A alegria dos comentários malandros, a revolta das perguntas insistidas, a necessidade imperiosa de discutir tudo o que escapa ao paradigma de cada um, e a vontade de viver cada momento da forma mais completa possível - acho que tenho um pouco de tudo isto na intensidade que muita gente me aponta.

Seguiram-se cinco dias de peixe fresco, bom azeite, café expresso a valer, taxistas a fazerem das suas, noites quentes, convívios familiares impagáveis, imperiais bem tiradas e, claro, tunas! Que saudades do orgulho de envergar o traje académico, de interpretar o nosso património musical, dos convívios sinceros e alegres, das anedotas de rir à gargalhada e dos amigos que não via há tempo demais. Valeu tanto a pena! E ainda assim tenho pena das conversas que não puderam ser mais longas e de não ter o dom da omnipresença, para poder em simultâneo participar no Encontro Nacional dos Campinácios (campos de férias de Verão). Mas sei que correu muito bem!

E depois houve a viagem de regresso, com contornos muito lusitanos: um engarrafamento substancial na 2ª Circular, o sistema informático que demorou 15 minutos a atribuir-me um lugar, o senhor segurança que inventou uma garrafa de água na minha mochila onde só havia livros, um bebé a berrar e a passar de mão em mão durante a viagem toda e uma senhora que decidiu vir espetar o seu rabo de tamanho 48 (e acredite-se que eu sei destas coisas - há muitos anos que vejo o meu próprio variar entre o 36 e o 42) na minha cara enquanto eu tentava saborear o meu empadão de carne e, de seguida, a mousse de chocolate.

Por fim, sinto-me outra vez em casa, tudo isto é agora muito mais familiar do que estranho. E venho feliz, de coração quentinho, com uns abençoados 2 kg de bacalhau e um poster do grande X Hipócrates para colar na parede. Até ver, Portugal!

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2 Response to "Uma mão cheia de dias e (re)encontros"

  1. Debora Aveiro Says:
    16 de abril de 2010 às 01:10

    Como é que só agora descobri que posso cuscuvilhar a tua vida? :D. Tenho-te debaixo de olho agora. (Poderia fazer uma analogia inteligente com matéria de oftalmologia, mas vou-me abster para o teu czech in manter o nível). E aposto que já tinhas saudades minhas.

  2. Joana Says:
    18 de abril de 2010 às 22:38

    Olá Afilhada!Tambem só agora descobri este teu blog, já li tudo e estou aqui farta de me rir com as tuas aventuras!Desculpa não ter podido estar contigo no Hipocrates mas sei que DeMente Baptista te fez chegar a minha fita e espero bem que estejas inspirada!Um grande beijinho e tudo a correr bem!

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