Life on the fast lane

A rede de transportes públicos em Praga tem uma inquestionável característica: é eficaz. Cobre toda a superfície urbana e suburbana, é constante nos seu horários (o tempo de espera nunca excede os 10 minutos) e tem ainda a virtude de contar com um potente sistema de aquecimento interior.
 
Diria que o eléctrico é o meio de transporte mais vital da cidade, porque assegura percursos arteriais e circula em ruas próprias, não sendo particularmente afectado pelo trânsito rodoviário da hora de ponta (por volta das 7h). Tem ainda a vantagem de circular durante toda a noite, pelo que é um local de eleição dos sem-abrigo. Em Plzen fui surpreendida pela existência de um torniquete muito peculiar que, como não poderia deixar de ser, nao tinha qualquer tipo de instruções. Parece um pequeno distribuidor de senhas em forma de fato-de-banho, mas tem uma ranhura particularmente estreita e escondida onde se insere o bilhete, que depois tem de ser recoberto com uma pequena patilha plástica enquanto se rola todo o aparelho para gerar uns quantos furos numa grelha com nove algarismos. Numa era tão digital quanto a nossa toda aquela actividade manual pode ser desconcertante. Principalmente se efectuada de luvas.

 
No Metro podemos sempre contar com correntes de ar gélidas e, ao longo das extensas e profundas escadas rolantes, dispoêm-se cartazes publicitários que a minha amiga Inês diz serem anti-naturais, visto estarem paralelos ao corrimão da própria escada e não verticais, como a postura que os leitores teoricamente apresentam. Adicionalmente, é ainda um verdadeiro antro desses verdadeiros profissionais que são os revisores. Estão por toda a parte! Manhosos... Sempre à paisana, com o casaquinho desportivo, e entretidos a limpar as unhas (sim, a classe) ou a ler um livrinho, para depois virem encostar assustadoramente moças estrangeiras contra a parede fria enquanto vociferam palavrões. (Tenho este problema: quando falam para mim em checo o meu modo default é assumir que estão a Praguejar. Muito alegórico.) Até que lá mostram o distintivo - sim, o distintivo. Uau. Os senhores da EMEL só têm uma farda verde mal parida.

 
Os taxistas são fogareiros em qualquer ponto da Europa, concluo. No outro dia verifiquei que o senhor que me conduzia de regresso a casa conseguiu ignorar por completo a luz vermelha de um semáforo que indicava a impossibilidade temporária de virar à direita, pelo que esse respeitável motorista resolveu, prontamente, virar à esquerda. Como é óbvio.

 
Deixei para último os maiores desafios que esta rede de transportes públicos coloca ao transeunte menos experiente. Em primeiro lugar, tenho observado que rigorosamente NENHUM mapa da cidade tem aquela sinalização do «Você está aqui» (ou «Náchazíte se zde»), o que é indiferente para quem realmente conhece a cidade ou considera que os nomes das ruas não são todos iguais. Mas a actividade mais divertida é, sem dúvida, a escolha do bilhete certo. Torna-se complicado gerir simultaneamente o tipo de transporte que se vai usar, durante quanto tempo e em quantas zonas, se incluir transfer, ao fim de quantas zonas e a quantas do fim da viagem, se se tem bagagem ou não, animaizinhos, etc. Para rematar, não deixa de ser curioso que um bilhete para 3 dias custe 300 Kč e um passe total para 1 mês custe 290 Kč. Viva a comunismo, ou o que ainda vai restando dele.

 
Por enquanto já sei que vou sentir saudades da senhora que anuncia as paragens no eléctrico. Grande mulher, consegue dobrar a língua de formas inimagináveis.

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1 Response to "Life on the fast lane"

  1. Anónimo Says:
    16 de março de 2010 às 01:44

    Devias meter uma foto dos tais torniquetes. E gostei do Praguejar, deve ser o dialecto dessa malta toda. :)

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