(Ver-se) Grego em Neurologia

No dia em que me registei na residência cruzei-me no balcão com um rapaz que foi simultaneamente brindado com aquela tão indescritível antipatia da recepcionista e que inclusivamente depois me ajudou a carregar as malas pela escada acima. Não gostei dele porque fez um único comentário: «Oh, you carry so many things, you're just staying for six months, this is too much.» Pfff, como se ele soubesse... (Aparentemente não lhe agradeci o gesto.)

Na noite desse mesmo dia vim a saber que o jovem se chama Vasilis e é, como o nome bem indicia, de nacionalidade grega. Ao contrário do que esperava, é bem simpático! Mas tem definitivamente um problema com bagagem, já o ouvi comentar ao seu colega de quarto que comprara uma pasta de dentes demasiado grande, que certamente não precisaria de tanta para a sua estadia em Praga. (Não quero imaginar como funciona a Alfândega na Grécia, mas deve ser terrível.)

Abreviando a narrativa dos acontecimentos, descobri que ele também estuda Medicina e que dois dias mais tarde estaríamos na mesma turma a ter aulas de Neurologia. Ena, um coleguinha. E eis que hoje começámos então essa tão interessante cadeira (sem sarcasmo, é a disciplina por que mais ansiava desde que entrei no curso).

A componente prática está muito bem organizada, o que para mim é mais ou menos uma novidade. Resume-se a uma hora e meia diárias, mas de facto não seguramos paredes. Somos seguidos por um professor muito atencioso, que nos faz uma ligeira introdução teórica, a que se segue a observação de um doente. Bom, na verdade hoje ainda só tivemos a oportunidade de praticar o exame neurológico uns nos outros, mas já foi bastante útil. Imagino que até ao fim destas três semanas tenhamos a oportunidade de fazê-lo com verdadeiros doentes.

O professor desta semana faria um John Cleese e meio, com um farto bigode e a respiração bem marcada dos indivíduos enfisematosos. Tem ainda a peculiar característica de não abrir muito a boca, o que faz com que compreender o seu terrível sotaque inglês seja uma tarefa particularmente complicada. Principalmente para o meu jovem amigo Vasilis, que está constantemente a tocar-me no cotovelo para que lhe repita o que o professor acabou de dizer.

Por outro lado, este meu companheiro apresenta ainda outras dificuldades bem mais representativas. Ao que parece, o curso de Medicina na Grécia é feito com base em literatura integralmente traduzida, ou seja, desconhece por completo a nomenclatura anatómica latina ou inclusivamente os termos ingleses, comummente utilizados a nível internacional. Portanto fui confrontada com perguntas inocentes como «Rita, what's inflammation?» e «What does deviation mean?». O rapaz está literalmente a ver-se grego em Neurologia... E eu tenho de aprender a controlar o meu esbugalhar de olhos.

Fica ainda um apontamento final, acerca da minha primeira (e última) aula de checo. Numa palavra: IMPOSSÍVEL. Não em aulas semanais ao longo de apenas 4 meses... Por isso decidi que a minha aprendizagem se ficaria apenas pelas frases básicas e cordiais, para não passar por completamente rude em transacções comerciais ou na circulação pedonal numa via ou transporte públicos muito movimentados. Para mostrar desagrado já me disseram que sou suficientemente expressiva.

Děkuji, na shledanou! [Fim do meu conhecimento verbal de checo.]

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1 Response to "(Ver-se) Grego em Neurologia"

  1. Anónimo Says:
    16 de março de 2010 às 01:48

    Tens que aprender a esbugalhar os olhos com a Fifes 8|

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